segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Garoto, interrompido

Tyton começou a rápida ascensão na carreira por um acidente. E a vê interrompida por outro (EFE)
Em 2010, Bram Castro era tido em altíssima conta no Roda JC. Titular do clube havia cinco anos, o goleiro belga já tivera pelo menos dois momentos históricos com a camisa do time de Kerkrade. Na temporada 2007/08, pela terceira fase da Copa da Holanda, marcou um gol aos 49 minutos do segundo tempo, mandando a partida contra o De Graafschap para a prorrogação - nela, o Roda venceria. E, na Eredivisie 2008/09, quando seu time acabou na Nacompetitie, onde decidiria a permanência na primeira divisão contra o Cambuur Leeuwaarden, Castro defendeu duas cobranças, na decisão por pênaltis, após empate por 2 a 2. E os Limburgers permaneceram na divisão de elite.

Só que, à espreita, logo no banco de reservas, havia um jovem polonês, que havia desembarcado no Parkstad Limburg em 2007, vindo do Gornik Leczna. Era Przemyslaw Tyton. Ele aguardou sua oportunidade - mesmo jogando vez por outra, desde 2008, a titularidade ainda era de Castro. Mas Harm van Veldhoven decidiu que os dois disputariam a vaga, em 2009/10. Numa vitória do PSV sobre o Roda JC (1 a 0, em 19 de janeiro de 2010, pela 18ª rodada da Eredivisie), Castro falhou no gol da vitória dos Boeren. E Tyton assumiu a titularidade, para não mais perder.

Era o início de uma ascensão que foi interrompida neste domingo, com a concussão cerebral que deverá tirá-lo de campo por alguns jogos. Ascensão que foi precipitada justamente no início da atual temporada. Já sem a ameaça de Castro - sem espaço no Roda, ele passou rapidamente pelo PSV, e, depois, foi para o Sint-Truiden -, o polonês era titular absoluto dos Koempels. Jogou bem as duas primeiras rodadas da Eredivisie. E o PSV não teve dúvidas: conseguiu o empréstimo imediato de Tyton, até o final da temporada, com opção de compra em definitivo.

Para se ter uma ideia da moral com que Tyton chegou a De Herdgang, o consenso era de que sua chegada significava que Andreas Isaksson perderia a titularidade. De modo até injusto, já que o sueco não tem falhado constantemente no gol dos Eindhovenaren. Mas não houve jeito: já na rodada passada, contra o VVV-Venlo, Tyton era o arqueiro escolhido por Fred Rutten. Assim continuou na partida contra o Legia Varsóvia, pela Liga Europa. E, finalmente, no jogo contra o Ajax em que teve o azar, na dividida com Timothy Derijck.

Caso Tyton não possa retornar no próximo jogo (na sexta, contra o... Roda JC!) , Isaksson ganhará mais uma chance para poder mostrar que não é digno de ser defenestrado do time tão repentinamente. E o polonês, que ganhou a chance no Roda graças a uma falha, poderá ver sua ascensão interrompida graças a uma infelicidade.

810 minuten: como foi a 6ª rodada

Ajax e PSV fizeram um clássico animado, a despeito da séria lesão de Tyton (Louis van de Vuurst/Ajax.nl)

NEC 1x2 NAC Breda
O gol rapidíssimo de Bram Nuytinck (um minuto e 33 segundos), mais a postura ofensiva dos Nijmegenaren no primeiro tempo, faziam supor que a equipe de John Karelse, novamente, iria se frustrar com mais uma derrota. Só que, na parte final da etapa inicial, algumas investidas de Schilder fizeram a esperança aumentar. O esforço e a pressão ficaram maiores no segundo tempo, e levaram aos gols de Alex Schalk e Önur Bayram. O NEC até buscou o empate, mas os Bredanaren mereceram a primeira vitória na temporada.

Groningen 2x0 Excelsior
Talvez o jogo mais desequilibrado da rodada. O goleiro Van Loo foi mero espectador da partida no Euroborg. Guiado por boas atuações de Bacuna e David Texeira (sob este, recai a esperança de minorar o impacto da saída de Matavz), o Orgulho do Norte criou bem mais chances. O 2 a 0 ficou baratíssimo, e o segundo triunfo na Eredivisie serviu como estímulo para a reação do time de Pieter Huistra. Já o Excelsior demonstrou porque é o último colocado do torneio, por enquanto.

VVV-Venlo 0x3 Heerenveen
Até os 29 minutos do segundo tempo, a partida no De Koel pôde muito bem ser considerada das piores até agora, na Eredivisie: equipes pouco inspiradas, até buscando o ataque, mas sem criar chances. E, quando as criavam, tinham a pontaria pouco calibrada. Principalmente no caso do VVV. Até que, no minuto supracitado, Narsingh colocou os frísios na frente. E, a partir daí, a melhor organização ofensiva dos visitantes levou à vitória por margem confortável. Nem foi tão merecida assim, mas foi compreensível.

Vitesse 5x0 Roda JC
No primeiro tempo, as duas equipes intercalaram momentos mais ativos. Só que o time de Kerkrade trouxe mais perigo ao gol, tanto em chutes de longe, como em cruzamentos para a pequena área - nos quais Velthuizen apareceu com segurança. Mas, na etapa final, os Arnhemmers se valeram de um gol de Marco van Ginkel (bonito toque de calcanhar) para abrirem o placar e se motivarem. Mais tarde, num curto espaço de tempo, os gols de Guram Kashia e Giorgy Chanturia (também bonitos), aos 26 e 28 minutos, derrubaram de vez o Roda. A goleada final serviu para animar os aurinegros de Arnhem, que andavam abatidos após as derrotas duras para Ajax e AZ. Agora, é tentar justificar as altas expectativas dentro do clube.

Feyenoord 4x0 De Graafschap
Desde o primeiro tempo, o time de Ronald Koeman já se apresentava melhor. Criava mais chances, valendo-se do que tem sido sua tônica nestas primeiras rodadas: jogadas constantes pelas pontas, contando com a rapidez de Jerson Cabral e Karim El Ahmadi, e velocidade na criação de jogadas. Por mais que os visitantes tenham assustado vez por outra no De Kuip, só faltava o gol para o Stadionclub sacramentar sua vantagem. Ele veio logo no início do segundo tempo, numa falha da defesa que Ruben Schaken aproveitou. Depois, John Guidetti sofreu pênalti de Ted van de Pavert, que foi expulso. Guidetti converteu o penal (seu segundo gol em sua segunda partida pelo Feyenoord) e o time deslanchou. Os gols de Kelvin Leerdam e Guyon Fernandez serviram apenas para prolongar a invencibilidade. O Feyenoord não sabe até quando ela durará, mas está aproveitando.

PSV 2x2 Ajax
O primeiro clássico do Campeonato Holandês ficou marcado pela assustadora jogada em que Tyton foi atingido, saindo do gramado direto para a ambulância. Injustiça. Foi uma ótima partida. Nem tanto pelo nível técnico, mas pela variedade de situações que apresentou. Favorecido até pela abertura rápida do placar, graças a uma rápida jogada aproveitada por Matavz, o PSV aproveitou a fragilidade que Boilesen e Van der Wiel tinham na marcação pelas laterais para criar várias chances - com Mertens se destacando, como de hábito nestas primeiras rodadas. Só que, ai, Boilesen lesionou o joelho. Frank de Boer colocou Enoh em campo, e recuou Anita para a lateral esquerda.  Com uma só mudança, o técnico Ajacied fortaleceu a marcação no meio e na lateral canhota. E os Godenzonen começaram a criar mais chances para o empate - que, afinal, veio, com Sigthórsson.

Com os anfitriões impactados pelo acidente com Tyton, os visitantes terminaram em melhores condições. No início do segundo tempo, as duas equipes tiveram chances de passar à frente. Só que, novamente, as laterais deram novo rumo ao PSV: Van der Wiel cometeu pênalti em Mertens, e Wijnaldum colocou os Boeren na frente. Em vantagem, a equipe da casa teve oportunidades de ampliar. Foi a hora de Frank de Boer mudar bem de novo: com Boerrigter e Sigthórsson inativos na frente, ele usou Bulykin, um típico finalizador. E foi numa jogada de oportunismo que o russo justificou sua contratação, garantindo o empate e salvando a invencibilidade do Ajax, num jogo divertido.

RKC Waalwijk 1x2 AZ
Voltar a perder, após três vitórias seguidas, não significa que os Católicos jogaram mal contra o AZ. Longe disso. Por mais que os Alkmaarders tenham aberto o placar - Rasmus Elm, de pênalti -, a equipe de Ruud Brood se impunha em casa. Criava chances, principalmente com Geoffrey Castillion. E foi ele, afinal, o autor do gol de empate. Sem ver Altidore, destaque das últimas rodadas, exibir uma boa atuação, Gertjan Verbeek colocou Charlison Benschop na ponta de lança do ataque - que até criava jogadas, mas parava em Jeroen Zoet, outro destaque do RKC. Mas foi o substituto Benschop que recolocou os visitantes na frente, após se antecipar à marcação de Guy Ramos. No entanto, o time de Alkmaar continuou sofrendo na defesa. Chegou à quarta vitória consecutiva, confirmando a boa fase, e tem a mesma pontuação do Twente. Mas o RKC também teve motivos para manter a cabeça erguida.

Twente 5x2 ADO Den Haag
Podia ser que o pênalti convertido por Lex Immers, que colocou o ADO Den Haag na frente, deixasse novamente o Twente em dificuldades. Não foi o que aconteceu. Rapidamente, Marc Janko empatou. Daí por diante, o que se viu foi uma atuação fácil dos Tukkers, que jogaram quase sempre em maioria no ataque, criando várias chances. Uma delas envolveu os dois melhores jogadores da equipe no dia: Rosales cruzou, e Douglas, de cabeça, virou o placar. Depois, Luuk de Jong apareceu para ampliar. John Verhoek, concluindo de maneira esquisita, até deu esperanças aos Hagenaren. Só que, na saída de bola, novamente atacando em massa, Bajrami marcou o quarto gol. Em novo cruzamento de Rosales, De Jong fechou o placar. E o Twente mostrou que a derrota para o Roda JC pareceu-se mais com um acidente de percurso. Capacidade para continuar na liderança da Eredivisie, o time já mostrou que tem.

Utrecht 2x2 Heracles Almelo
O empate refletiu bem o que foi a partida: um jogo igual. As duas equipes ancoraram-se em trios para atacarem. Os Almelöers sairam atrás, mas conseguiram virar o jogo graças às triangulações formadas por Glynor Plet, Willie Overtoom e Lerin Duarte. Já os Utregs abriram o placar - e conseguiram o placar final - pelas boas atuações de Alexander Gerndt, Nana Asare e Jacob Mulenga. Com tal igualdade até no número de destaques, não dava para um time se sobressair, mesmo, no De Galgenwaard.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A facilidade, a altivez e a tensão

Tendo Altidore (à direita) como destaque, AZ foi o melhor holandês no início da fase de grupos da Liga Europa (Reuters)

Se sonhar com a Liga Europa já é uma realidade um pouco mais plausível - bem pouco - aos clubes holandeses, a primeira rodada da fase de grupos deu aos três batavos que participam da LE sensações diferentes dessa realidade. O AZ teve uma prova da boa fase que vive, o Twente comportou-se seguramente e deu a certeza de que pode avançar à segunda fase. E o PSV, mesmo com a vitória, continua tendo calafrios com a irregularidade apresentada até aqui na temporada.

Quando fez o relato sobre o 4 a 1 que os Alkmaarders aplicaram no Malmö, da Suécia, o site da revista Voetbal International foi sucinto: "O árbitro Ivan Bebek poderia ter apitado o final do jogo no intervalo". Claro que há exagero (a Copa Mercosul de 2000 exemplifica), mas, quando um time abre 3 a 0 nos primeiros 45 minutos, a virada fica bem dificultada. Foi o que o AZ fez. O resultado comprova que o time tem condições de avançar de fase.

Algo que seria natural, vendo-se o time que Gertjan Verbeek tem em mãos. Há muito habituado a fazer bons trabalhos em clubes médios (Heerenveen, na temporada 2007/08, e Heracles, em 2009/10), o treinador consegue, por ora, satisfazer a intenção com que foi trazido: evitar que o clube sofresse com o impacto da quebra do banco DSB, e com as saídas de gente que há muito era a base da equipe, como El Hamdaoui e Schaars. Contando com alguns jogadores que mantêm o nível razoável (Elm, Wernbloom e Gudmundsson), boas revelações (o goleiro Esteban Alvarado) e contratações pontuais (como a de Altidore), o AZ conta com um time mais afeito à sua realidade. Pela vice-liderança que ocupa atualmente na Eredivisie, pelo 4º lugar no campeonato passado e pela boa estreia na Liga Europa, é a medida mais acertada.

O Twente, por sua vez, poderia ter sentido algum temor quando o Fulham saiu na frente. Até porque jogava pior no Craven Cottage - o gol do time inglês saiu de um recuo curto demais de Tiendalli, que Andrew Johnson aproveitou, dominando a bola e batendo Mihaylov. Só que os Tukkers mantiveram a calma. Um minuto depois de perder gol em jogada semelhante, Luuk de Jong recebeu cruzamento de Rosales e completou para o gol de Schwarzer. Não significou que os comandados de Co Adriaanse controlaram a partida depois disso. Inclusive, o Fulham é que teve mais chances para marcar, com Clint Dempsey e Johnson. Só que a equipe de Enschede se controlou. E deu mostras de que o time é seguro e altivo o bastante para sonhar com a classificação.

Se o Twente tem razões para se animar, mesmo com um empate, o PSV ainda continua se preocupando. Conseguiu vencer o Legia Varsóvia, com um gol de Dries Mertens - o oitavo do belga, em seis jogos pela temporada -, e criou mais chances no primeiro tempo. Só que, sem conseguir aumentar a vantagem, sofreu alguns ataques do Legia. E, com um ataque renovado (Matavz foi escalado como ponta de lança, tendo a titularidade pela primeira vez), não conseguiu aproveitar as chances. Tendo em vista que Mertens, mais uma vez, foi o destaque, começa a se notar uma dependência excessiva de um jogador neste começo de temporada. E a impressão de irregularidade continua. O que traz tensão ao PSV. O único holandês que não deu razões para confiança na Liga Europa.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

E ficou ainda mais duro

Ajax se esforçou e criou chances. Não foi suficiente para superar o Lyon. (Ajax.nl)

Há um ditado chinês que diz: "Há três coisas que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida". Pois bem, a chance de o Ajax ter mais esperança de sobreviver na Liga dos Campeões diminuiu um pouco mais. Porque, mesmo tendo criado chances, sem sofrer tanto na defesa, os Godenzonen não conseguiram fazer o preciso para ter mais esperança: gol.

Quanto ao esquema, não houve surpresas: um 4-3-3, com Frank de Boer escolhendo Boilesen para a lateral esquerda, na vaga de Anita (que até entrou, no final). Ao invés do costumeiro, Siem de Jong jogou menos centralizado, enquanto Theo Janssen, enfim, ganhou a posição que dele esperava-se: no meio, distribuindo as jogadas. E, no primeiro tempo, até deu certo: o Ajax atacou mais, e o Lyon ficou mais conservador no gramado da Amsterdam ArenA.

As chances surgiram, principalmente, com as jogadas de bola parada. A primeira, com Boerrigter. Depois, Vertonghen. E, finalmente, a melhor oportunidade: aos 37 minutos, após bola cruzada por Sigthórsson, Sulejmani cabeceou. Livre, o sérvio mandou ao lado do gol de Lloris. E tudo, com o Lyon só chegando com perigo num toque de Gomis que passou por cima do gol, após cruzamento de Michel Bastos.

No segundo tempo, a pressão dos Ajacieden continuou, de modo mais forte. Primeiramente, com Eriksen, aos 15 minutos, arriscando chute e forçando Lloris a fazer boa defesa. O goleiro dos lioneses teve de agir bem também numa cabeçada de Sigthórsson. Como o gol não vinha, restou a Frank de Boer fortalecer mais o ataque, nos últimos minutos: Sulejmani e Sigthórsson deram lugar, respectivamente, a Ebecilio e Bulykin, mais descansados e capazes de fazer papel semelhante. Janssen, por sua vez, deu lugar a Anita, que ia fortalecer o ataque pela direita.

Não só não deu certo, como a última chance foi do Lyon: aos 42 minutos, Van der Wiel falhou na marcação, e Grenier cruzou a Michel Bastos. O brasileiro tentou chutar, mas Vermeer saiu rapidamente. E salvou o Ajax de sofrer um gol nada desejável.

De qualquer modo, embora tenha conseguido se mostrar capaz de atacar, o Ajax não aproveitou a oportunidade doméstica para passar à frente dos Gones, na disputa por vaga nas oitavas de final - supondo que o Real Madrid é favorito a uma delas. Sabendo-se que o próximo jogo é justamente contra os madridistas, no Santiago Bernabéu, dá para pensar que os lioneses passarão à frente. Agora, é tentar fazer a parte cabível no Gerland.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Vai ser mais difícil

Na Liga Europa 2010/11, Twente só parou nas quartas. Terá de se esforçar para não parar antes dessa vez (UEFA.com)

Sabe-se que a última vez em que algum clube holandês saiu de campo comemorando um grande título continental foi na temporada 2001/02, quando o Feyenoord viveu o melhor dos cenários: ganhando o título da Copa Uefa, contra o Borussia Dortmund, em decisão marcada previamente para o... De Kuip! Sabe-se também que o último time vindo da Holanda que fez fama pelo brilhantismo foi o Ajax campeão da Liga dos Campeões, em 1994/95. E, finalmente, sabe-se que, após o título do Feyenoord, houve alguns bons momentos - destaque para os bons duelos do Milan, na Liga dos Campeões, contra Ajax (quartas de final, 2002/03) e PSV (semifinais, 2004/05), quando uma classificação das equipes batavas chegou a parecer bem possível.

E, na véspera da estreia dos times holandeses nas fases de grupos dos campeonatos europeus de clubes, convém notar que 2010/11 também foi um período honroso, apesar dos pesares. Talvez, o clube que mais decepcionou foi o Ajax: mesmo com boas atuações contra o Milan, ser facilmente superado pelo Real Madrid e perder para o Auxerre, na França, matou as chances de classificação às oitavas de final da Liga dos Campeões. E, na segunda fase da Liga Europa, os Ajacieden decepcionaram, sendo presas fáceis para o Spartak Moscou.

Só que Twente e PSV mostraram valor, de certa forma. Principalmente o clube de Enschede: longe de ter sido saco de pancadas na Liga dos Campeões, a equipe conseguiu superar o Werder Bremen, e garantiu uma bela consolação com a ida para a Liga Europa. Aí ficou ainda melhor: superando Rubin Kazan, nos 16-avos de final, e Zenit, nas oitavas (dois clubes em situação melhor), os Tukkers chegaram às quartas de final. Foram facilmente superados pelo Villarreal, mas a boa impressão permaneceu. Os Eindhovenaren, por sua vez, também tiveram bom rival no Lille, mas passaram pelos franceses. Nas oitavas de final, só sofreram com a defesa férrea dos Rangers, já que foram francamente melhores. Só foram parar também nas quartas, pela superioridade do Benfica.

Porém, o cenário deverá ser diferente, nesta temporada. Não que os clubes holandeses tenham mudado sua situação. Apenas os desafios são mais difíceis. Tome-se por exemplo a situação do Ajax, que começa na Liga dos Campeões enfrentando o Lyon, na Amsterdam ArenA, nesta quarta. A chave que coube aos Godenzonen na LC foi novamente indigesta. Para começo de conversa, o temível Real Madrid será adversário, de novo. E, se inspira menos respeito do que o Milan, o Lyon também é melhor, e favorito à outra vaga do grupo D. Dos duelos contra os Gones sairá a possibilidade dos Amsterdammers sonharem com as oitavas de final - isso, se não houver tropeços contra o Dinamo Zagreb.

Na Liga Europa, o cenário é um pouco mais auspicioso. AZ, PSV e Twente tiveram grupos bastante acessíveis. Contra Hapoel Tel Aviv, Rapid Bucareste e Legia Varsóvia, no Grupo C, o time de Eindhoven terá oportunidades para melhorar aos poucos, se entrosar e esquecer o começo irregular que está tendo na Eredivisie. Já na chave G, o AZ terá mais exigências contra Metalist Kharkiv, Austria Wien e Malmö, mas pode avançar sem problemas. Finalmente, o Twente terá no Fulham um rival elogiável, na chave K. Mas Odense e Wisla Cracóvia não deverão oferecer muita resistência. Tudo bem até o sorteio dos jogos da segunda fase. Aí, a coisa deve complicar.

E deve complicar porque os clubes holandeses não dão razões para confiança mínima (exceto, talvez, o regular Twente). Nesta temporada, definitivamente, ocasiões honrosas como as do ano passado devem ser mais raras. Com a Grécia não muito atrás no ranking da Uefa, não custa batalhar para evitar eliminações precoces - e indesejáveis.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

810 minuten: como foi a 5ª rodada

Apesar do 3 a 2 contra o Heracles, o Ajax teve menos dificuldades do que se pensa (Ajax.nl)

Cinco rodadas passadas na Eredivisie, já se consegue notar uma certa força do Trio de Ferro, mais os dois que normalmente têm conseguido furar esse bloqueio nos últimos anos - claro, AZ e Twente. Só que, dentre os três principais clubes holandeses, nota-se que o Ajax tem conseguido manter o status de favorito. E, principalmente, que o começo do Feyenoord tem algo de animador: o time de Ronald Koeman está invicto (três vitórias e dois empates).

Entre o resto, o destaque supremo vai para o RKC. Para um time ainda considerado alvo favorito para o rebaixamento, os Católicos estão tendo um começo ótimo: ocupam a sexta posição, com 10 pontos, mesma quantidade do PSV. Só não estão à frente dos Eindhovenaren pelo menor número de gols marcados. Clubes que tinham tudo para fazer campanha melhor, como Groningen e NAC Breda, sofrem com o péssimo começo. Vamos à avaliação dos jogos da quinta rodada:

Roda JC 2x1 Twente
O time de Kerkrade se valeu de uma atuação bastante calma para, enfim, impor a primeira derrota na temporada aos Tukkers. Estes até começaram melhor: em detrimento do pouco espaço que a defesa dava, Willem Janssen conseguia achar lacunas. Numa dessas é que ele conseguiu chutar, para o rebote do goleiro Kieszek (emprestado pelo Porto), aproveitado por Janko.

Só que os contragolpes do Roda foram certeiros. No minuto seguinte, Vormer empatou. E, no primeiro minuto da segunda etapa, o próprio Vormer fez belo passe para Mitchell Donald virar o jogo. Houve certa pressão do time de Co Adriaanse, mas o Roda se segurou. Pôde até fazer 3 a 1, no final do jogo. De qualquer modo, já podia se vangloriar por ter derrubado o único time a haver conseguido só vitórias na Eredivisie, até a quinta rodada.

AZ 4x0 Vitesse
Mesmo tendo perdido Sigthórsson, o ataque dos Alkmaarders continua com vários jogadores que, se estão num bom dia, são até imparáveis. Foi o caso diante do Vitesse. Bastaram dois gols rápidos para encaminhar a vitória. Ambos, surgidos de cruzamentos mal marcados pela defesa dos Arnhemmers (e nos quais Velthuizen, finalmente de volta ao gol dos aurinegros após a passagem ruim pelo Hércules), e aproveitados por Wernbloom e, depois, por Gudmundsson. O belo gol de Maher - após passe de Beerens, o meia tocou por cobertura - e o pênalti convertido por Elm trataram de apagar qualquer possibilidade de reação dos visitantes. Tudo antes do intervalo.

ADO Den Haag 0x1 RKC Waalwijk
Até que, pelo começo, os Hagenaren davam a ideia de que conseguiriam vencer. Tendo os irmãos John e Wesley Verhoek à frente, os comandados de Maurice Steijn iam frequentemente ao ataque. Mas bastou um contra-ataque bem encaixado dos Católicos para Rick ten Voorde, com um belo voleio na segunda trave, fazer o gol da vitória. Depois, o RKC só segurou o jogo. E nem teve tantas dificuldades para alcançar um ótimo resultado.

De Graafschap 1x0 NEC
No primeiro tempo em Doetinchem, as duas equipes criaram poucas jogadas de ataque. Nas que criaram, as defesas agiram bem. A não ser numa rápida triangulação em que Soufiane El Hassnaoui abriu o placar para o time anfitrião. Depois de ficarem atrás, os Nijmegenaren começaram a chegar mais ao ataque. Essa medida ficava mais frequente à medida que o fim do jogo se aproximava. Só que os jogadores falhavam nas finalizações e chutes de fora da área. Com tantas oportunidades perdidas, não houve como evitar a primeira vitória dos Superboeren na temporada.

Heracles Almelo 2x3 Ajax
O gol de Willie Overtoom que colocou os Almelöers na frente até deu a impressão de que os Ajacieden também poderiam ser surpreendidos. Só que Siem de Jong não deixou. Menos valorizado do que deveria, o camisa 10 dos Amsterdammers recolocou o atual campeão no jogo, com o empate. E, no segundo tempo, sacramentou a virada - que até demorava, tal o número de chances criadas, mas defendidas por Remko Pasveer. Que, diga-se de passagem, falhou nos dois primeiros gols.

Um rápido contra-ataque e um passe de Eriksen para Sulejmani concluir com um leve toque fecharam a questão para o Ajax voltar a ser líder do campeonato. Nem mesmo o gol de Glynor Plet, no final do jogo, assim como a expulsão de Lorenzo Ebecilio, apagaram a sensação de que o placar foi mais apertado do que o jogo em si. Vitória categórica, importante para dar moral rumo à sequência indigesta de jogos (Lyon na quarta, pela Liga dos Campeões; depois, pela Eredivisie, "só" PSV, Twente, Groningen e AZ).

Heerenveen 3x0 Groningen
O Dérbi do Norte se resumiu quase a um time. As únicas vezes em que o Groningen chegou ao ataque foram pelo esforço de Leandro Bacuna. De resto, o Heerenveen foi francamente superior. Tanto é que nem precisou se esforçar muito para fazer 3 a 0, num jogo que teve poucas emoções.

VVV-Venlo 3x3 PSV
Não adianta: o PSV não consegue decolar nesta temporada. Prova disso foi o tropeço quase imperdoável contra o VVV. Com algumas alterações feitas por Fred Rutten (a mais notável delas sendo a colocação do recém-contratado Tyton no gol, deixando Isaksson no banco de reservas), a vantagem de 2 a 0 fora construída facilmente, com destaque para o belo gol de Toivonen. Mais do que isso: com seu tento, Dries Mertens igualou Piet van der Kuil (temporada 1961/62) e Mateja Kezman (temporada 2003/04) como um dos três únicos "PSV'ers" a terem marcado gols em todos os primeiros cinco jogos de uma temporada.

Só que não adiantou. Porque bastaram quatro minutos para os Venlonaren conseguirem virar o jogo de modo espetacular. Duas vezes, contando com falhas de marcação dos Eindhovenaren no jogo aéreo. E, uma vez, graças a um belíssimo gol, talvez o mais bonito da rodada, feito pelo nigeriano Uche Nwofor, contratação recente. Somente aos 30 minutos do segundo tempo os visitantes escaparam da derrota, com o empate feito por Wilfred Bouma. Ainda assim, o tom de derrota foi indisfarçável para o PSV.

NAC Breda 1x3 Feyenoord
O gol de Robbert Schilder, com cinco minutos de jogo, não era um bom auspício na tentativa do Stadionclub em manter a invencibilidade na Eredivisie. Era preciso que os novos reforços aparecessem. E eles o fizeram. Primeiro, foi Otman Bakkal, que empatou o jogo ao desviar escanteio de Jerson Cabral. Mas foi no segundo tempo que o esforço empregado pelos Rotterdammers, enfim, deu frutos.

E contando, mais uma vez, com uma novidade no elenco. El Ahmadi virou o jogo, com um belo gol de fora da área, e o sueco John Guidetti, que entrou na vaga de Guyon Fernandez, converteu pênalti, a três minutos do fim. Pelo esforço que o NAC também empregou no jogo, que foi até animado, uma vitória animadora.

Excelsior 2x3 Utrecht
Outro jogo que poderia ter sido mais fácil. Mesmo após ter saído atrás no placar, o Utrecht atacava mais. Virou ainda no primeiro tempo, fez 3 a 1 na etapa final, e parecia ter a vitória bem encaminhada. Só que, mesmo com um jogador a mais (Samuel Scheimann foi expulso antes ainda de Nana Asare fazer o terceiro dos Utregs), os visitantes deixaram o Excelsior fazer o segundo, com o zagueiro Broerse. Então, tiveram de se esforçar para conter o oponente de ânimo redivivo. Conseguiram evitar a surpresa de ver o lanterna da Eredivisie chegar ao empate, mas têm de se cuidar.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Não precisava

Celebrado após marcar seu primeiro gol pela seleção, Strootman vai se firmando no grupo de Van Marwijk (Getty Images)
Tem-se discutido muito o conceito de jogos entre seleções. A utilidade deles, a falta de empolgação que se vê, o ritmo modorrento. Pode-se dizer, de certo modo, que a campanha da Holanda nas eliminatórias para a Euro 2012 preenche à perfeição. Independentemente do grupo em que caísse, a Oranje já vinha anabolizada psicologicamente pela campanha na Copa. Depois que o sorteio lhe reservou os rivais, a crença da qualificação ficou ainda mais forte, quase como se fosse destino.

E é o que os jogos têm revelado: antes mesmo do massacre contra San Marino, o domínio do time de Bert van Marwijk no Grupo E já era flagrante. E o 2 a 0 contra a Finlândia foi mais uma prova do que já se vê há um bom tempo: um time que nem precisa se esforçar para ser amplamente superior. Mais do que isso: um time que mostra uma capacidade insuspeita. A de conseguir recuperar a postura tática e emocional em campo, mesmo após passar por problemas em campo.

Essa postura foi delineada desde os primeiros momentos do jogo em Helsinque. Com a mesma escalação do jogo da última sexta, a Oranje começou pressionando firmemente a saída de bola finlandesa. Não deu para abrir o placar antes dos 15 minutos, então, veio o natural: a volta ao paciente toque de bola, ao "tikkie-takkie voetbal" - sim, daí derivou o "tiki-taka" que dá nome ao estilo do Barcelona.

Assim passou-se boa parte do primeiro tempo, sem que o time anfitrião conseguisse ameaçar muito. Só que foi um passe longo que acelerou a resolução da história. Sem exercitar comumente essa qualidade na seleção, Sneijder fez um lançamento milimétrico para Strootman, que completou de primeira. Belo gol, o primeiro pela seleção, o que de certo modo ajuda o meia do PSV a se solidificar como a grande alternativa a Van Bommel ou De Jong, na dupla de marcação. Se é que Strootman ainda é alternativa.

Somente depois é que o time de Mixu Paatelainen começou a fazer algo no ataque. Guiado pelos esforços de Forssell (menos), Pukki (o melhor finlandês, provavelmente), Eremenko e Hetemaj, o time começou a criar jogadas e até a arriscar chutes a gol. Só que nenhum deles dava problemas a Stekelenburg. Essa tendência prosseguiu no segundo tempo.

Mas quem criou problemas foi a própria Holanda. Apalermada pela própria superioridade, a equipe começou a jogar displicentemente. Bastou para uma jogada perigosa surgir de um erro, e quase resultar no primeiro gol sofrido pela Oranje em jogos fora de casa nas eliminatórias: após Pieters errar um recuo de bola, aos 13 minutos, Hämäläinen dominou-a livre, entrou na área e tocou por cima de Stekelenburg. Só não marcou porque o lateral esquerdo holandês se redimiu, tirando em cima da linha.

Só então a Oranje exibiu a qualidade de conseguir se recompor. E a expulsão de Hetemaj, pelo segundo cartão amarelo após falta em Van Bommel, aos 25, só tranquilizou mais as coisas. O que não significou nova onda de letargia: Van Marwijk acertou ao tirar Van Persie e Huntelaar, apáticos, para colocar Luuk de Jong e Elia.

O atacante do Twente pouco fazia, mostrando algum nervosismo. Mas Elia deu novo dinamismo aos ataques laranjas, mostrando-se como boa opção. E foi por uma jogada individual sua que, aos 46 minutos, Luuk de Jong fez o gol decisivo, seu primeiro pela Oranje.

Enfim, a Holanda nem estava desesperada pela vitória. Mesmo que a Suécia tenha vencido San Marino, basta um ponto contra a Moldávia para a Oranje garantir o voo dos 23 atletas rumo a Polônia e Ucrânia em 2012. Só que, se não precisava de muito esforço, também não precisava incorrer na displicência. Menos mal que mostrou também capacidade de reação.

domingo, 4 de setembro de 2011

Os rescaldos do massacre




Desde 2004 na Oranje, Kuyt está bem perto de entrar na lista dos dez com mais partidas pela seleção (AP)

É de se supor que uma goleada tão grande quanto os 11 a 0 contra San Marino quebre algum tipo de recorde - ou, no mínimo, aumente certas invencibilidades. Só que a quantidade de números que o placar largo modificou na história da seleção holandesa é impressionante.

A começar, claro, pelo mais citado dos recordes: foi a vitória de maior placar nos 106 anos de história da Oranje, superando os 9 a 0 conseguidos contra Finlândia, em 4 de abril de 1912 (pelo torneio olímpico de futebol, em Estocolmo), e Noruega, em 1º de novembro de 1972 (nas eliminatórias para a Copa de 1974).

Só que o triunfo em Eindhoven significou o prolongamento de duas invencibilidades. A primeira, vá lá, nem tão desconhecida assim: desde o 11 de julho de 2010 (derrota cujas circunstâncias todos conhecem: contra a Espanha, na final da Copa), ou seja, há 13 jogos, a Holanda não sabe o que é derrota. E, em termos de partidas em casa por eliminatórias para a Eurocopa, a invencibilidade vai mais longe: 47 jogos. A última derrota data de 30 de outubro de 1963: 2 a 1 para Luxemburgo, em Roterdã.

Não bastasse isso, jamais os holandeses haviam conhecido uma invencibilidade tão grande na qualificação para o torneio continental de seleções: há sete partidas estão invictos (desde 2007, na derrota por 2 a 1 para Belarus, em Minsk, quando a vaga para a Euro 2008 já estava garantida).

Em relação a feitos individuais, também se viram várias mudanças. A começar na lista dos jogadores com mais partidas. Dirk Kuyt fez, em Eindhoven, a sua 79ª partida pela Oranje. Ainda é o 12º jogador com mais partidas. Só que empatou com Bergkamp e Kluivert. Caso jogue em Helsinque, contra a Finlândia, na próxima terça, o atacante se tornará o 10º com mais jogos envergando a camisa laranja.

E, na lista de goleadores, as mexidas foram ainda maiores. Se é criticado por seus rendimentos nos clubes - mas, vá lá, seu início de temporada no Schalke 04 tem sido reconhecido -, Klaas-Jan Huntelaar cresce de rendimento na Oranje. Tanto é que, com apenas cinco anos de serviços prestados à Oranje adulta, o nativo de Drempt já fez 28 gols, em 45 jogos. E igualou-se a Beb Bakhuys, atacante dos anos 1920 e 1930, como oitavo jogador com mais gols pela seleção. Logo atrás (precisamente, na 10ª posição), chegou Robin van Persie. Com os quatro gols que marcou, o atacante do Arsenal foi a 25, superando Marco van Basten.

Só que números são rescaldos frios, e nem querem dizer muita coisa. As impressões do jogo é que dão elementos úteis. E tivemos duas impressões fortes em Eindhoven. A primeira: Kevin Strootman vive uma ascensão frenética em sua carreira. Há um ano, o meio-campista estava no Sparta Rotterdam. Logo no início da temporada 2010/11, foi-se para o Utrecht. E, hoje, está no PSV. E, pela postura mais ofensiva que mostrou como parceiro de Van Bommel, dá a impressão de que pode tomar a posição de De Jong.

A segunda é ver que, se exibe um estilo francamente mais ofensivo do que o mostrado na Copa do Mundo, ele ainda não envolve todos os jogadores. Basta ver as jogadas de ataque. Todas com toques rápidos, tabelas envolventes... e com Sneijder, Van Persie e Kuyt aparecendo em boa parte do tempo. Com isso, se mostra desenvoltura sem Robben, a equipe de Bert van Marwijk corre o risco de ter seus pontos fortes bem visados, atraindo a atenção dos marcadores e tornando as coisas mais difíceis.

Mas, por incrível que pareça, saber que a Alemanha, um rival de grande respeito, será adversária no amistoso de 15 de novembro é auspicioso. Exatamente para revelar como a Oranje pode se sair contra um oponente da mesma altura. Motivação para enfrentá-lo, existe. Sneijder prova isso ("É a melhor base da Oranje na qual joguei. Temos prazer, e crescemos muito a cada jogo. O técnico também cresceu, após três anos."). Van Bommel, também, com palavras parecidas ("É o melhor time em que já joguei, como Van Persie já disse. E nisso incluo os clubes em que já estive.")

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Rival fraco. Mas foi histórico




Era para a foto ser de Van Persie, que fez quatro gols. Só que Sneijder marcou o décimo que a torcida pedia (Getty Images)

A seleção de San Marino é fraca. Fragílima. Nível técnico próximo do risível, seguramente um dos piores da Europa. Basta pegar os resultados do time nas duas últimas eliminatórias de que participou. Na qualificação para a Euro 2008, nenhum ponto, dois gols marcados, 57 sofridos. E, na tentativa de chegar à Copa de 2010, números um pouco mais honrosos: se novamente a "Sereníssima" ficou sem pontos, sofreu "apenas" 47 gols. Até fez um, na derrota para a Eslováquia, em 11 de outubro (a saber, Andy Selva foi o autor).

Óbvio, a equipe sanmarinesa é alvo de constante chacota. Tudo fruto da lógica. A população do país é a menor entre as nações que fazem parte da UEFA (31.918 habitantes). Logo, de uma quantidade já pequena não há de se tirar muita qualidade futebolística. E a maioria dos atletas da seleção ainda é amadora. Resultado: volta e meia, a equipe sofre goleadas acachapantes.

A ponto de quase sofrer uma humilhação adicional: nos lendários 13 a 0 sofridos para a Alemanha, nas eliminatórias da Euro 2008, o goleiro Jens Lehmann quase foi cobrar um pênalti que surgira, no último minuto do jogo em Serravalle. Não o fez porque, na última hora, preferiram que Bernd Schneider o cobrasse, para fechar o placar.

Todo este longo preâmbulo para frisar que, nesta sexta, em Eindhoven, a Holanda fez uma tarefa próxima do obrigatório. Falando no popular: bateu em bêbado. Agora, convém lembrar que o grupo em que a Oranje esteve nas eliminatórias para a Copa de 2010 também era sempre apontado como frágil, permanente motivo para dizer que a equipe de Bert van Marwijk "não era isso tudo". Pode não ser a melhor seleção do planeta, mas o desempenho na África do Sul provou que uma chave de baixo nível nas eliminatórias não é sinônimo de time enganador em momentos decisivos.

E a chave para os 11 a 0 que se viram em Eindhoven também foi fundamental para o vice-campeonato: a concentração. Ter goleado por "apenas" 5 a 0 em Serravalle, na primeira partida das eliminatórias da Euro, ainda se perdoava: a ressaca da Copa ainda persistia. Agora, o cenário era outro. Ainda que vitimada pelas ausências de De Jong e, principalmente, de Robben, o time começou seriamente. Com alguns minutos, já havia tido três escanteios.

E, aos sete minutos, Van Persie fez 1 a 0. Estava iniciado o caminho para aquela que seria uma noite histórica. Continuou aos 12, quando Sneijder fez o segundo. E aos 17, quando, de cabeça, Heitinga fez o terceiro. E nada mais ocorreu por parte da Oranje. O que fazia crer que o time ia passar os 73 minutos restantes apenas administrando o jogo. Nada criminoso, mas iria ser decepcionante.

Não foi. Porque Kuyt fez 4 a 0 logo aos quatro minutos, na etapa final. Porque Huntelaar fez dois gols, continuando a render bem com a camisa laranja. Inclusive, foi com o oitavo gol da partida, feito pelo atacante, que a torcida presente ao Philips Stadion lembrou a cena clássica do Flamengo x Botafogo no Campeonato Carioca de 1981: pôs-se a gritar "Dez! Dez!"

Na verdade, 9 a 0 já bastavam para que a Oranje igualasse seu maior placar a favor, conseguido duas vezes: contra Finlândia, em 1912, e Noruega, em 1972. Só que o ânimo continuou. E Van Persie se mostrou imparável no segundo tempo, marcando mais três e sendo o primeiro jogador a marcar quatro gols pela seleção holandesa desde 1990 - e, naquela ocasião, Van Basten ainda fez mais um, em um 8 a 0 contra Malta, pelas eliminatórias da Euro 1992.

Finalmente, veio o êxtase. Aos 34 minutos, Van Persie fez o 9 a 0. A pressão pelo décimo foi quase irrespirável. E, aos 42, Sneijder pôs Eindhoven abaixo. Era a primeira vez que a Oranje marcava uma dezena de gols em sua história. E o minuto final daquela partida ainda reservava uma surpresa agradável a um jovem: tendo acabado de entrar no lugar de Strootman (e, por tabela, estrear pela Oranje adulta), Wijnaldum fez o 11º gol que fechou uma noite histórica.

Volte-se a frisar: era San Marino, provavelmente a pior seleção da Europa. Só que a principal qualidade deste grupo comandado por Van Marwijk se viu mais uma vez: a grande capacidade de concentração, de foco em um objetivo. Serviu para quebrar um recorde. Pode servir na Euro - alguém duvida que a qualificação é altamente provável? Porque, afinal, como disse Van Persie, "este é um grupo realmente bom."

quarta-feira, 30 de março de 2011

Uma vitória bem instrutiva


Holanda, finalmente, teve de se esforçar. E conseguiu um triunfo que deixa ensinamentos (AP)


Pelo começo do jogo na Amsterdam ArenA (que teve bonita homenagem a Van Bronckhorst, antes de seu início), a Holanda repetiria, na segunda partida contra a Hungria, pelas eliminatórias da Euro 2012, o passeio dado na última sexta, em Budapeste. Afinal de contas, a Oranje iniciou chegando constantemente ao ataque. E o gol que abriu o placar, feito por Van Persie, parecia o prenúncio de uma partida fácil.

Não foi. E não foi porque, achando que a partida estava definida, a equipe treinada por Bert van Marwijk cometeu aquele que talvez seja o seu pior erro: jogar esperando o adversário, oferecendo espaços a ele no ataque. Poderia até ser uma estratégia possível, caso a seleção tivesse uma defesa acima de qualquer suspeita. Não tem. Pior: não só a escalação contraindicava isso, uma vez que Van der Vaart não tem o poder de marcação de Van Bommel, como alguns defensores tiveram atuação frágil. Como Pieters e Van der Wiel, pelas laterais.

A consequência era óbvia: cada vez mais, os húngaros começaram a aproveitar os espaços oferecidos e a chegar perigosamente ao ataque, contando com as boas atuações de Gergely Rudolf e Zoltán Gera - auxiliados por Dzsudzsák, mais discreto dessa vez, mas sempre útil. O empate já poderia ter saído no final do primeiro tempo, quando os visitantes eram francamente melhores. Saiu no início do segundo, quando Rudolf teve até sorte, com o chute que desviou em dois defensores. E, com a Holanda aturdida, Gera fez o segundo gol. Parecia o golpe final na invencibilidade de nove jogos - que é maior, quando se lembra de jogos na Amsterdam ArenA. E maior ainda, em termos de jogos pelas eliminatórias da Euro (46 jogos!).

Parecia. Porque, aí sim, a Holanda tratou de justificar porque é uma das grandes seleções do mundo, atualmente. Com Afellay aparecendo no jogo, junto do esforço de Kuyt e de Sneijder, a Oranje chegou à virada - e contando também com a experiência de um personagem especial. Ao fazer o terceiro gol, Ruud van Nistelrooy empatou com Faas Wilkes, tornando-se o terceiro maior goleador da história da Oranje, com 35 gols. O nativo de Oss pode ser reserva, pode não aguentar mais o ritmo de uma partida completa, mas sua experiência e capacidade de finalização é algo de que não se pode prescindir.

A defesa até voltou a falhar, oferecendo o empate a Gera. Mas a confiança e a consciência de que precisava se esforçar para chegar à vitória continuavam grandes. E resultaram numa reação rápida, com os dois gols de Kuyt que deram a continuação da invencibilidade e a aproximação maior ainda da Euro. Numa vitória mais árdua do que se esperava, mas merecida.

Não só merecida, mas muito instrutiva. Porque mostra que a Holanda não pode se dar ao luxo de achar que jogar cautelosamente sempre dará resultado. E mostra que mesmo um adversário fraco exige todo o esforço possível. Caso aprenda isto, a Holanda continuará apta a exercer o domínio que hoje exerce no Grupo E das eliminatórias da Euro 2012.


segunda-feira, 28 de março de 2011

Rob de Wit: parado pelo cérebro

De Wit poderia ter tido o mesmo destino de sucesso do contemporâneo Van Basten. Mas a saúde não permitiu (ajax.nl)


Atualmente, a seleção da Holanda encara uma rodada das eliminatórias da Euro 2012, na qual enfrenta a Hungria, duas vezes. São jogos decisivos, obviamente: vencendo-os, a Oranje fica muito perto da vaga na principal competição europeia de seleções. No entanto, já houve outras partidas decisivas para a seleção contra a Hungria. E uma delas foi a principal da carreira de um jogador que começou de modo fulgurante, mas teve de encerrar a carreira repentinamente: o atacante Rob de Wit.

Para começar a falar de De Wit, devemos voltar quase 26 anos no tempo. Mais precisamente, ao mesmo estádio de Budapeste que viu o jogo contra a Hungria, na última sexta-feira - hoje, chamando-se Ferenc Puskás, mas ainda Népstadion à época. Era o dia 14 de maio de 1985. Ainda disputando vaga na Copa do Mundo de 1986, em uma disputa renhida com a Áustria, no Grupo 5 das eliminatórias europeias, a Oranje enfrentava a Hungria, já classificada para o Mundial. Precisando da vitória.

Era jogo duro. Até que, aos 24 minutos do segundo tempo, Simon Tahamata, da direita, inverteu o jogo com Rob de Wit, que havia substituído Ton Lokhoff, no intervalo. O atacante dominou, passou por dois defensores húngaros como se eles não existissem e tocou, levemente, por cobertura, na saída do goleiro Peter Disztl. Era o gol da vitória holandesa. Aquele 1 a 0 fez com que a equipe de Leo Beenhakker empatasse com a Áustria, em pontos, superando-a no saldo de gols e conseguindo lugar na repescagem. Foi eliminada dramaticamente pela Bélgica, mas essa é outra história.

Aquele era o pico de uma subida vertiginosa. Que começara em 1982, quando De Wit, nascido em Utrecht, em 8 de setembro de 1963, iniciou sua carreira profissional jogando pelo clube da cidade. Com a camisa dos Utregs, foram poucos jogos: 42, marcando sete gols. Mas o estilo leve, de dribles rápidos, com que chegava ao ataque fez com que o nome de De Wit logo ficasse famoso. Não demorou para que, em 1984, o Ajax decidisse contratá-lo, para substituir Jesper Olsen, que saíra para o Manchester United.

E também foi um pulo para que De Wit se tornasse um dos favoritos da torcida. E justificasse os aplausos com ótimas atuações. Que, finalmente, o levaram à seleção holandesa, estreando em 1º de maio, contra a Áustria, também pelas eliminatórias europeias da Copa. E, treze dias depois, De Wit faria o descrito acima, em Budapeste.

Se ainda era reserva no início das oportunidades que recebeu, De Wit terminaria aquelas eliminatórias como titular - jogando, inclusive, a malograda partida contra a Bélgica, que eliminou a Oranje do Mundial. E entrou 1986 como parte da base holandesa, além de permanecer titular no Ajax, onde conquistaria a Eredivisie, naquele ano. Era fato: De Wit prometia subir ainda mais na carreira, junto de companheiros do Ajax, como Van Basten ou Jan Wouters.

Mas o destino disse não. Ao final da temporada 1985/86,  quando passava férias na Espanha, De Wit sofreu uma hemorragia cerebral. Até pareceu um incidente contornável. Tanto é que seus companheiros trataram de mandar um cartão, ao hospital onde o atacante estava internado, fazendo piada: "Nós nem sabíamos que você tinha cérebro".

Na continuação do tratamento, o jogador viajou para a Suécia, de modo a fazer um tratamento com laser. Tinha grandes chances de cura. Pois elas diminuíram barbaramente, com os erros médicos: o laser provocou danos irreparáveis no local da hemorragia. De Wit até tentou voltar aos treinamentos. No entanto, tinha dificuldades em fazer os movimentos, e o corpo reagia aleatoriamente. O zagueiro Ronald Spelbos, já veterano, deu a dica: "Robbie, é melhor você parar". E, em 1986, ainda aos 23 anos, De Wit abandonou a carreira.

De Wit sofreria mais duas hemorragias cerebrais, em 1993 e em 2005. Mas está vivo e lúcido, morando em Utrecht. E ainda pode contar a respeito do jogo que decidiu contra a Hungria.

Ficha
Nome:
Rob de Wit
Posição: atacante
Data de nascimento: 8 de setembro de 1963, em Utrecht
Clubes: Utrecht (1982 a 1984) e Ajax (1984 a 1986)
Títulos: 1 Campeonato Holandês (1985/86)
Pela seleção: 8 jogos, 3 gols 


Veja o gol de De Wit contra a Hungria, nas eliminatórias para a Copa de 1986

sábado, 26 de março de 2011

E não vai mudar nada


Restam poucas dúvidas: a Holanda nada de braçada em seu grupo nas eliminatórias da Euro (AP)


Quando os grupos das eliminatórias para a Euro 2012 foram sorteados, já dava para se ver que a Holanda teria um caminho tão fácil como foi o da qualificação para a Copa de 2010. Até por ser cabeça de chave, pela terceira colocação no ranking da UEFA para as seleções europeias, a Oranje certamente teria um grupo sem adversários que pudessem causar grandes dores de cabeça.

O que não se esperava é que ele fosse mais fácil ainda. Afinal de contas, o time de Bert van Marwijk teria dois países um pouco mais tradicionais pela frente, Suécia e Hungria. É certo que haveria o alívio de pegar equipes como Moldávia e San Marino - este último, um saco de pancadas reconhecido. Ainda assim, dava para pensar na hipótese de suecos e húngaros fazendo alguma pressão contra a Laranja.

Pois foram justamente estes dois rivais tradicionais que sofreram duas das goleadas aplicadas pela equipe na qualificação para a Euro. A Suécia já havia sido destroçada com um 4 a 1. E, nesta sexta, foi a vez da Hungria sentir a ampla superioridade batava no Grupo E. O que só prova uma coisa: a solidez do elenco com que Van Marwijk trabalha, atualmente, é tão grande que a regularidade das atuações continua, sejam quais forem os jogadores.

Para começar, no gol, Michel Vorm foi bem sempre que exigido, como em chutes de Rudolf e Dzsudzsák. Já em boa fase há algum tempo, o goleiro do Utrecht se credencia, cada vez mais, como o reserva imediato de Stekelenburg. Mas é no meio-campo que se dá a grande revelação da boa fase que vive a Oranje. O personagem dessa revelação é Van der Vaart.

O meia do Tottenham foi o homem do jogo em Budapeste. Não só deu qualidade na saída de bola, como ainda assumia o papel de armador (como no terceiro gol, quando seu passe pegou a defesa húngara desprevenida, deixando Van Persie e Kuyt livres), ou até chegava ao ataque - resultando no primeiro gol, após bom passe de Sneijder.

Paralelamente a isso, depois de sofrer nos dez primeiros minutos de jogo, a linha de quatro defensores ficou absolutamente tranquila. O que deu liberdade para que Van der Wiel pudesse avançar o quanto quisesse, sem causar a menor preocupação na parte de trás. Enquanto isso, os coadjuvantes fizeram bem o seu serviço. Por exemplo, sem muitas preocupações na marcação, De Jong mal usou de força nas tentativas de repelir as subidas húngaras.

Com a vitória, a Holanda solidifica mais ainda um ciclo bastante seguro. É verdade que o grupo não é dos mais fortes. E as atuações do time tampouco são exuberantes a ponto de merecer os elogios derramados que Marco van Basten proferiu, comentando o jogo pela TV Veronica ("Foi agradável de se ver, lembrou algo do Barcelona", falou San Marco). Mas, assim como já fizera no caminho para a África do Sul, o time de Van Marwijk vai passando pelos rivais sem dificuldades.

E, após a derrota na final da Copa do Mundo, já consegue uma nova sequência invicta: desde o empate contra a Ucrânia, em agosto de 2010, já são oito partidas sem derrota. Sete vitórias seguidas (duas por amistosos, cinco nas eliminatórias da Euro). Cem por cento de aproveitamento na qualificação.

Ou seja: pode até ser que haja um empate, quem sabe uma derrota, em Amsterdã, na próxima terça. Mas nada indica que a Holanda deixará de estar na Polônia ou na Ucrânia para disputar a Eurocopa pela nona vez, no ano que vem. Com ou sem Robben, com Van Bommel ou Van der Vaart como parceiros de De Jong na dupla de marcadores no meio... nas eliminatórias para 2010, 2012... não vai mudar nada.


quarta-feira, 16 de março de 2011

Como acompanhar um jogo em holandês

Agora você já sabe que falar "Cocu na trave" não é o jeito mais correto (postproduktie.nl)


Gol. Tor. Golo. But. Essa história de glossário esportivo faz com que todo mundo saiba pelo menos o básico da terminologia futebolística em outros idiomas. Pois bem, este blog aqui não poderia ficar de fora. Ainda mais tendo em vista que um dos principais atrativos do futebol holandês são os nomes ligeiramente complicados.

(Parêntese para uma anedota: dizem que, pouco após a Copa de 1974, jornalistas brasileiros toparam com ninguém menos do que Johan Cruyff. Tiveram o ímpeto de perguntar a ele como se dizia o seu sobrenome: cráif, cróif, crúif, como diabos se dizia aquela palavrinha complicada? Perguntaram. E "Jopie" disse, impassível: "Podem me chamar de Johan".)

Feita a pausa levemente humorística, vamos a algumas dicas. A primeira delas é o famoso dígrafo ij - que é, na verdade, uma letra em si, na Holanda. Ele é pronunciado como sendo um éi. E, ao ser falado assim, acaba ficando parecido com um ái. Daí estar certo falar "réicard" ou o mais popular "ráicard" para Rijkaard, por exemplo.

Também há uma particularidade envolvendo o encontro vocálico oe. Quando as duas letras estão juntas numa palavra, nessa ordem, são pronunciadas como se fossem o u português. Por exemplo: quando nos referimos ao ex-zagueiro da seleção holandesa, de passagem vitoriosa pelo Barcelona, fala-se cúman para Koeman. E não quêman, como se a palavra fosse de origem alemã, com aquele trema característico. Outro exemplo vem não da Holanda, mas da Ucrânia: o volante do Bayern de Munique é chamado não de Tymoshchuk, mas de Tymosjoek.

Pois bem: se o u, para os holandeses, é o oe, então como se fala o u de fato? Neste caso, o som continua sendo de u, mas falado com "bico", o que faz o som virar uma leve mistura de u com i. Para tanto, lembremo-nos dos velhos e bons cacófatos envolvendo o sobrenome do ex-meia, hoje auxiliar de Bert van Marwijk na seleção e de Fred Rutten, no PSV: sim, ele, Phillip John William Cocu, o terror dos narradores. O Cocu não é pronunciado como se espera em português, mas fica sendo meio o Cocu natural, meio Coquí.

Outra dica importante é sobre mais um encontro vocálico, ui. Ele é pronunciado como se fosse, na verdade, um ãi (embora esse ainda não seja um som exato para descrevê-lo). Sendo assim, o nome do maior artilheiro da história da seleção holandesa é pronunciado Clãifert - é, o v tem som bem forte em holandês, quase como um f. E Kuyt (ou Kuijt, a forma holandesa original) fica sendo cãit, ao invés do cúit falado normalmente.

A última dica válida é sobre o ee, cujo caso mais conhecido é o de Seedorf. Embora o uso de Sídorf para o nome do meio-campista do Milan já tenha ficado consagrado, o certo seria falar o ee do nome como ei. Logo, Seedorf seria Cêidorf.

Ainda há outras regrinhas. Mas são dispensáveis, pelos usos consagrados de certos modos. Por exemplo, o fato de o j ser sempre pronunciado como i. Isso faz com que os holandeses chamem o que aqui é dito como Ajax de Áiax. Só que se, na ânsia de falar certo, você chegar numa discussão com brasileiros e falar Áiax, isso soará meio arrogante e desnecessário.

O mesmo com o g. Em holandês, ele é pronunciado de modo gutural, como um rr. Só que também torna-se uma preocupação excessiva, por exemplo, passar a falar Rrúlit para Gullit, como ficou aqui no Brasil. Isto é, estas são duas regras "dispensáveis", em termos.

Dito isto, vamos ao famoso glossário de termos futebolísticos em holandês. Boas tentativas!

Aanval - ataque
Aanvaller - atacante
Aansluitingstreffer - gol de honra
Aanvoerder - capitão
Aftrap - início de jogo
Beker - copa
Blessure - contusão
Blessuretijd - acréscimos
Buitenspel - impedimento
Bondscoach - técnico da seleção (ao pé da letra, "técnico da federação")
Clublied - hino do clube
Coach - técnico
Doelpunt - gol
Doelman - goleiro
Eerste helft - primeiro tempo
Eigen doel - gol contra
EK - Eurocopa (de "Europese Kampioenschap", "campeonato da Europa" ao pé da letra)
Elftal - time
Erelijst - lista de títulos
Extra tijd - prorrogação
Gelijkspel - empate
Gewonnen - vitória
Hoekschop - escanteio
Jeugd - juvenil
Kaart - cartão
Keeper = doelman
Kopbal - cabeçada
Lat - travessão
Links - esquerda
Middenveld - meio-campo
Middenvelder - meio-campista
Omhaal - bicicleta
Overtreding - falta
Paal - trave
Rechts - direita
Rust - intervalo

Scheidsrechter - auxiliar
Schot - chute
Selectie - elenco
Speeldag - rodada
Speler - jogador
Spits = aanvaller
Strafschop - pênalti
Supporters - torcedores
Technische staf - comissão técnica
Tegenaanval - contra-ataque
Thuis - em casa
Topscorer - artilheiro

Trainer = coach
Tweede helft - segundo tempo
Uit - fora de casa
Verdediger - defensor
Verlenging = extra tijd
Verliezen
- derrota
Verslaggever - narrador
Vleugelaanvaller - ponta
Vleugelverdediger - lateral
Voorzet - cruzamento
Wedstrijd - jogo
Winnen = gewonnen
WK - Copa do Mundo (de "Wereld Kampioenschap", "campeonato do mundo" ao pé da letra)

segunda-feira, 14 de março de 2011

810 minuten: como foi a 27ª rodada

Ola John transformou o esforço do Twente em mais uma difícil vitória, contra o VVV (Vincent Jannink/EFE)

Tem sido periódica a disputa entre PSV, Twente e Ajax pela liderança da Eredivisie. Em algumas rodadas, nada acontece nela; noutras, o PSV consegue um respiro maior na liderança. Porém, a 27ª rodada do Campeonato Holandês seguiu pelo caminho em que os Enschedese e os Ajacieden reavivaram suas esperanças de título. Com o tropeço do time de Eindhoven frente ao NEC, o Twente ficou a apenas um ponto do líder - e os Ajacieden, a três.


Logo abaixo na tabela, o AZ pode ser considerado o grande beneficiado da rodada. Começou-a em sexto lugar, e teve todos os resultados que lhe ajudavam: venceu o concorrente direto Roda JC, e viu Groningen e ADO Den Haag caírem. Com isso, subiu para a quarta posição, e aumentou suas chances de ir para a Liga Europa. Também aumentou o otimismo do Feyenoord, que cravou a terceira vitória consecutiva e já tem esperança de minorar os traumas de uma temporada que ficará negativamente marcada em sua história. Aqui, uma geral dos jogos:


Utrecht 1x0 Groningen
Tentando reagir após duas derrotas, o time de Pieter Huistra foi ao ataque por algumas vezes. A mais perigosa delas, logo no começo do segundo tempo, quando Leandro Bacuna mandou uma bola no travessão de Michel Vorm. Mas os Utregs tinham uma arma: a volta de Frank Demouge, recuperado de contusão. E foi precisamente o camisa 12, que, após três minutos em campo, fez o gol da vitória. Fato negativo: a cotovelada que o goleiro Luciano aplicou em Ricky van Wolfswinkel. Não rendeu punição do árbitro ao brasileiro, mas foi flagrada pelas câmeras.


Heracles 4x1 Excelsior
23 minutos. Este foi o tempo em que se acreditou que o estádio Polman, em Almelo, poderia ver um jogo equilibrado. Até que Daan Bovenberg foi expulso, por derrubar Everton na entrada da área, como último homem. Dos 24 minutos da etapa inicial em diante, domínio claro dos Almelöers - que ainda contaram com alguma ajuda, como no terceiro gol, em que Mark Looms chutou e o goleiro Nico Pellatz falhou. A goleada também representou um passo a mais na ascensão dos comandados de Peter Bosz, sendo a terceira vitória consecutiva. Já ao Excelsior, fica a certeza de que a tentativa de fuga do rebaixamento será árdua.


Roda JC 1x2 AZ
O jogo em Kerkrade era muito importante para as duas equipes, concorrentes diretas por vagas na Liga Europa. E os Alkmaarders apresentaram uma eficiência bastante útil para uma partida tão decisiva. Primeiramente, com o gol de Sigthórsson, que desviou muito levemente na bola após cobrança de falta de Maarten Martens. E, depois, com o próprio Martens fazendo 2 a 1, dois minutos após o Roda empatar, sem deixar que os comandados de Harm van Veldhoven se empolgassem na partida. Vitória bastante importante para o time de Gertjan Verbeek - que, após a saída turbulenta do Feyenoord, voltou a ter uma sequência de bons trabalhos.


Vitesse 1x1 Heerenveen
Tentando ampliar ainda mais a sua distância em relação às zonas de rebaixamento e da Nacompetitie, os Arnhemmers conseguiram a "ajuda" da defesa no gol de Martí Riverola. Afinal, o espanhol cabeceou completamente livre, sem marcação na área. E, ao longo do jogo, o time aurinegro criou mais chances. Não as aproveitou, parando na boa atuação do goleiro Kevin Stuhr-Ellegaard. E foi punido com o gol de Darryl Janmaat, aos 42 minutos do segundo tempo. Ainda assim, manteve vantagem segura em relação ao goleado Excelsior. Os frísios, por sua vez, continuam na disputa para entrarem nos play-offs por vaga na Liga Europa.


De Graafschap 1x0 ADO Den Haag
O time de Haia tentou. Com Jens Toornstra, com Lex Immers, com Dmitri Bulykin, vice-artilheiro da Eredivisie. Mas pararam numa ótima atuação de Boy Waterman, que fez boas defesas no gol dos Superboeren. Então, bastou um contra-ataque de Steve de Ridder, um cruzamento deste, e Rydell Poepon fez 1 a 0. Vitória surpreendente, até certo ponto, mas merecida por parte da equipe de Darije Kalezic. Ao Den Haag, restou a decepção de perder um jogo altamente importante para seguir a ótima campanha que vinha fazendo - e para entrar de vez na disputa da vaga nos play-offs da Liga Europa.


Feyenoord 2x1 NAC Breda
Como de costume nas últimas partidas, o Stadionclub exibiu um espírito esforçado e renovado em campo. Algo exemplificado na rapidez que Ryo Miyaichi exibe para jogar pelos lados do campo. E pela força que Luc Castaignos mostra nas finalizações - o gol que abriu o placar no De Kuip foi o terceiro seguido do atacante, e o seu 11º na Eredivisie. A possibilidade da vitória até levou um forte solavanco, com o gol de empate do NAC, conseguido num chute de Jenner, em que Rob van Dijk (substituto de Erwin Mulder, às voltas com a morte do pai) cometeu uma falha ridícula. Mas o esforço que o Feyenoord emprega em suas atuações foi premiado com o gol de Stefan de Vrij. E uma temporada que ficará negativamente marcada, ao menos, vai se tornando mais digna.


Twente 2x1 VVV-Venlo
Já há algum tempo, o Twente tem se caracterizado por conseguir suas vitórias na Eredivisie de um modo relativamente difícil. E o triunfo sobre os Venlonaren não foi diferente. A começar pelo fato de que os Tukkers ficaram atrás, em casa, logo aos três minutos do primeiro tempo, com o gol de Ferry de Regt. A sorte é que o time de Michel Preud'homme, quase sempre, consegue correr atrás dos resultados com esforço e organização. Resultado: também consegue virar comumente. Já antes do intervalo, empatou, com Brama. No segundo tempo, o sempre bom Theo Janssen mandou uma bola na trave. Até que, aos 38 minutos, Ola John, que entrou no lugar de Bajrami, virou. E o esforço continua mantendo o Twente forte na disputa do título holandês.


Willem II 1x3 Ajax
Apesar de estarem em situação, no mínimo, desesperadora na tentativa de fugir do rebaixamento, os Tilburgers tinham alguma esperança de oferecer dificuldade aos Ajacieden. O retrospecto ajudava: há cinco partidas, o último colocado da Eredivisie não perdia em casa. E a esperança aumentou quando Toby Alderweireld falhou, e permitiu a chegada à área. Verhoeven, substituto de Stekelenburg, também falhou, e Rangelo Janga também ficou livre para fazer 1 a 0. No intervalo, Frank de Boer decidiu arriscar, colocando Dario Cvitanich e Aras Özbiliz em campo. Não foram necessários mais do que três minutos para a aposta render: Özbiliz passou a Siem de Jong, que fez 1 a 1. No entanto, só após a expulsão (justa) de Halilovic é que o Ajax ficou mais tranquilo. E consolidou a virada, com dois belos gols de Vertonghen e Christian Eriksen.


NEC 2x2 PSV
Durante todo o primeiro tempo, os Nijmegenaren ameaçaram mais o gol de Isaksson. Principalmente com Leroy George. Numa jogada, já no final do primeiro tempo, o atacante foi lançado em profundidade. Estava livre, mas deixou a bola passar por ele. Mas, aos 41 minutos, George voltou a ser acionado. E, num bonito chute de fora da área, fez 1 a 0. Porém, o PSV mostrou alta eficiência e empatou ainda antes do intervalo: num belo cruzamento de Manolev, Dzsudzsák marcou. Já no segundo tempo, em boa jogada individual, Jeremain Lens virou o jogo. E os Eindhovenaren iam garantindo mais uma vitória providencial, até que a defesa relaxou. Aos 45 minutos do segundo tempo. E Ramon Zomer, de cabeça, fez 2 a 2. Um empate inesperado e ruim para os (ainda) líderes da Eredivisie.

Declaração de intenções






Sem este time, a história do futebol holandês não seria a mesma. Só que ele já jogou há 37 anos (holland74.net)


Já há muitos blogs feitos no Brasil falando sobre o futebol mundial. Falando, aliás, de países incomparavelmente mais tradicionais. Itália, Espanha, Inglaterra, Alemanha. Todos muito bem feitos. No entanto, havia uma falta: o futebol holandês. Não que ninguém falasse sobre ele: alguns blogs já haviam sido começados. E as comunidades existem: no Orkut, no Twitter, no Facebook. Nada que fizesse os blogs continuarem regularmente.

E, então, fica a lacuna. Que sempre é preenchida pelos velhos estereótipos, como lembrar da "Laranja Mecânica" da Copa de 1974, Cruyff, Van Basten, Gullit, as épocas em que Romário e Ronaldo estiveram no PSV, o Ajax do início dos anos 1970, o Ajax de Louis van Gaal... de fato, todos elementos justamente reconhecidos na história do futebol batavo. Mas que, no entanto, estão longe de refletir o que é o futebol holandês em seu todo.

Continuava, então, o mistério. De quatro em quatro anos, a Oranje aparecia nas Copas do Mundo; de vez em quando, um time holandês se destacava; mas ninguém se preocupava em acompanhá-los a par e passo. Mesmo no cenário atual: o país tem a seleção vice-campeã do mundo. E mesmo assim, pelo nível relativamente baixo, o campeonato nacional continua sendo pouco acompanhado.

E é por isso que esse blog foi criado. Para se focar sobre um país pequeno, mas dono de uma escola futebolística facilmente reconhecida mundo afora - não só reconhecida, mas cujas influências são sentidas até hoje. Até mesmo no estilo de jogo da Espanha, atual campeã mundial. Para tentar compreendê-lo um pouco mais - sim, compreendê-lo: afinal de contas, por mais que o autor goste dele, ele não é um holandês, e sim um brasileiro que apenas gosta de futebol holandês.

E, se gosta, essa paixão tem um cupido. E o nome dele é Edwin van der Sar. Acompanho sua carreira desde que tomei conhecimento da existência dele pela primeira vez, no guia que a revista Placar organizou para a Copa de 1994 - havia uma foto de VDS, como reserva que foi de De Goey naquela Copa. É o maior ídolo que tenho no futebol. E, a partir dele, passei a acompanhar a seleção holandesa - com mais proximidade, a partir de 2006. Para seguir mais proximamente os campeonatos nacionais, foi um pulo.

E este blog é a concretização de um velho projeto. Que começa com uma só pessoa. Mas que pode ter mais. Caso você se interesse, escreva para espremealaranja@gmail.com. Teremos um tom mais analítico do que noticioso, fazendo análises da rodada, análises de times e da seleção, relembrando campeonatos, equipes e jogadores - de Puck van Heel a Sneijder, de Harry Vos a John de Wolf. E vamos começar, porque Cruyff já se aposentou há 27 anos e alguém precisa continuar falando sobre futebol holandês. Welkom!